1.11.11

FATE: Bastidores...


Fiquei assustado com a força frenética que tomou conta dos meus pensamentos com esta nova exposição. Não consegui  parar  de desenhar e produzir. Não me recordo, realmente, de já ter me sentido tão cansado, exaurido, física e mentalmente. Meus olhos ardiam, controlava minha respiração, pois a ansiedade acelerava meu coração.

Eu olhava encantado uma peça sendo produzida, ficava eufórico e em seguida, saía correndo para o meu restaurante, insatisfeito com tudo. Dava bronca em todo mundo, reclamava das coisas certas de forma errada. A solução era ir para casa onde começava a dormir as 22:00h e acordava invariavelmente 01:30h durante 17 dias!!! Levantava, não podia  fumar, porque não fumo há mais há 14 anos;  não podia beber, porque não gosto; então desenhava, desenhava e desenhava.

No dia seguinte voava até o ateliê as 06:00h da manhã super empolgado. A série nova é original e bastante pictórica, e, acima de tudo, consegue mandar o recado, ilustra o turbilhão  de pensamentos, ansiedades, culpas. Redenção!
Nesses dias me aproximo de um entendimento muito claro do drama, aflição, medo, empolgação e da euforia dos meus grandes ídolos. O que me fascinava me tornava introspectivo, em alguns dias, meditativo. No entanto, eu era movido por sentimentos, que agora sei, eram banais e cotidianos. Decepcionei-me ao realizar isso.


Não havia nobreza, nem heroísmos nesses pensamentos, mas somente a mais pura, monstruosa e gigante avalanche de satisfazer o ego, se perpetuar. Como se isso pudesse fazer alguma diferença. Ser reconhecido pelas gerações, bullshit. Em meio a divagações, pensei que é por isso que todo artista é tido meio como louco, pancada, lelé, mas a verdade é mais banal do que isso. É simplesmente não aceitar a sua sina, sua natureza e cumprir o ciclo.


Movido por sentimentos mais meus do que para a sociedade, tirei desse processo particular  um resultado bonito, original e muito trabalhado. Tenho essa convicção sobre esta série, mas não sem ter alguns grilos também. É obvio, faz parte do meu show.



O conhecimento que eu julgava ter de mim mesmo, e a suposta sabedoria de que eu sei o quanto tenho que trabalhar a minha ansiedade, porque sei exatamente até onde posso aguentar, parece não ter surtido muito efeito. Eu mergulhei fundo em um stress nervoso ou síndrome de pânico, não sei. Esses dias todos foram terríveis, difíceis de lidar. Mas tive que trabalhar, não teve jeito, sempre acompanhado de vozes, impulsos que mais pareciam explosões. O nó no estômago apertou, busquei o ar em muitos momentos,  encontrei apenas um pouco e continuei a sina.

Houve um dia que entrei no carro rumo à minha casa - a sensação é que não eu não ia conseguir chegar. Não sei como, cheguei. A pressão foi a 17x10. Cardiologista? Não queria, mas fui arrastado. O médico pediu um monte de exames. A pressão aumentou, na verdade,  o cagaço. Estava tudo normal, mas o medo continuava. Desacelerei, respirei fundo. Não tenho bengala, alias acho que ela não me tem, então o jeito foi não me desesperar, ir devagarinho até passar o ciclo e um dia... não passar!

Pensava em mantra... “simplifique, controle o ego, cumpra o ciclo”...



Essas histórias parecem bonitas, de efeito, promocionais, mas não são. Só quem passa por isso, e não são poucos, sabem. Por que escrevo, não sei. Compaixão, resposta, desabafo, revolta, impacto... Quem sabe?. Talvez um pouco de cada ingrediente desses. Uma coisa é certa, não é novidade, não é raro, é apenas a tragicomédia da vida humana, muitas vezes difícil e outras, surpreendentemente feliz.

Sinto que estou a apenas uma curva da chegada na busca do equilíbrio, mas ao virar não vejo nem a luz, nem o fim, nem o túnel...ainda!

É irônico, é injusto, mas somente alguns chegarão a ser um Caetano ou um Chico; um Picasso ou um Kooning; um Chopin ou um Mozart; um Pelé ou um Zico... Mais irônico ainda, embora justo, é que no fim, tudo vai se nivelar, voltar ao que era antes.


 Wagdy Radwan





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