Agora 2011, no início do ano, depois
da minha exposição Autorretrato, com
mais de 30 esculturas, volto com Fate, uma nova fase que pode, com
certeza, ser considerada oportuna,
politicamente correta, calculada e estratégica, entre outras afirmações.
É, pode até ser tudo isso, mas
tenho certeza de que, se assim o for, é em proporção diminuta, pois tenho a
convicção que é acima de tudo uma mea
culpa, por ter sido madeireiro e, como tal, completamente descomprometido
com a vida do planeta.
Ao longo do meu contato com o sentimento da
minha arte, ou com a arte dos meus sentimentos alterados, fui me envolvendo e,
de fato, me envolvi até ficar horrorizado com simples lembranças do meu dia a
dia: as máquinas, tratores, serras, caminhões, o fogo, o frenesi assustador.
São muitas as imagens que hoje
me doem, me cortam e me inspiram ao inverso: os caminhões empilhados de toras em
caravanas intermináveis a caminho do sudeste e do Porto de Belém; mergulhadores
cortando árvores submersas pela lagoa de Tucurui ; caminhões com gado chegando
de todos os lugares, para ocupar os pastos recém formados; gente apinhada em
lotações, ônibus e boléias.
Para qualquer leigo,
ignorante, ou para um cego capitalista, a visão era de prosperidade, de
trabalho; uma dinâmica similar à conquista do oeste americano, mas radicalmente
diferente. Poderíamos até chamar de oeste tupiniquim, com suas pessoas
desdentadas e curtidas pelo sol; crianças descalças, sujas, redondas de barriga
d’água; valas negras a céu aberto, falta de energia e água potável; prédios maltrapilhos, caminhões sem cabine com
os motores à mostra e, muitas vezes, um mero
caixote como assento do motorista. Cenas e sentimentos embolados.
Convivi com inúmeras pessoas
que trabalhavam apenas pela comida e outras que viviam da caça, caça de qualquer
espécie. Sem qualquer pudor, naquela selva de homens, seres humanos (?) matavam
macacos, pássaros e animais silvestres para se alimentar, enquanto outros
seguiam em carvoarias para alimentar as grandes usinas da região. O amanhecer
nestas regiões era coberto de nevoeiro que lembrava o fog londrino... Que ironia, era apenas a fumaça das dezenas de fornos de fabricação de
carvão. Nada era poupado de mais um pouco de destruição, nada.
Pois é, eu mudei de cenário,
mudei de lado. Mas e o resto? E quanto aos coadjuvantes? E quanto àqueles pobres figurantes? O ser humano vai sempre
atender ao seu primeiro instinto, “A Sobrevivência”. De nada adiantam protestos, exposições, fóruns, mídia, passeatas, discursos, enfim. Enquanto
não forem criados meios para àquele povo subsistir, NADA VAI MUDAR. No matter what.
Em que consciência sã uma mãe
irá assistir seu filho morrer a míngua de fome, subnutrição ou doença por conta
de uma preservação que, diga-se por sinal, sequer entende o significado? Aquele
povo acha até graça quando se fala em não matar um animal ou derrubar uma árvore,
principalmente quando seu próprio marido foi morto por especuladores de terras;
caçado, ironicamente, como animais, por
jagunços contratados para expulsá-los do seu próprio chão.
O que podemos argumentar com
uma mulher que perdeu marido e filho, porque, na esperança de que os
pistoleiros mercenários não atirassem em uma criança, o pai colocou seu filho
nas costas e atravessaram com tiros os dois.
Precisamos outorgar poderes,
quase absolutos, a uma pessoa incorruptível, que comandaria a repressão a essa
violência e colocaria ordem nessas regiões; enquanto intelectuais, indigenista,
botânicos, administradores, ONGs, governos estaduais, e poder federal,
trabalhassem juntos em torno de uma política, justa, sustentável e definitiva.
Essa é a matemática. Um mais um, finalmente, seria igual a dois.
É necessário ainda acabar de
vez com a hipocrisia, o mau-caratismo, a ganância e a falsidade de muitos
países, principalmente os mais desenvolvidos. Em especial a Europa, sim, a
Europa, o velho continente, o berço da cultura. A mesma Europa que lidera as listas
de países que mais compram madeira do Brasil para depois chegarem cheios de
moral em Davlos e em tantos outros
fóruns.
Somente em 2010, importantes países
como a Bélgica, Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão, China, Holanda,
Itália, Canadá, Portugal, Espanha, África do Sul entre outros, tiveram um
aumento na demanda de compra de madeira em torno de 2 a 40%. Viva o homem!
Racinha de merda.
Se o governo e o mundo se
tornarem menos hipócritas, e agirem em torno de uma política de não só de preservação,
mas também de destinos turísticos para a região, talvez ela se tornasse a maior
fonte de renda deste país e, em um futuro próximo, estaríamos dando um passo determinante
para a sobrevivência de futuras gerações. Parece complicado, mas é o nosso Fate
, o destino em nossas mãos.
Wagdy Radwan


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